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Publicado em 23 de Abril de 2024

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Inteligência Artificial generativa e as mudanças na educação superior

Profissionais e instituições do ensino superior devem adotar estrategicamente a IA generativa, capacitando estudantes para avançarem junto às novas tecnologias

Introdução


A IA não é uma tecnologia nova, porém nunca foi acessível a todos. Até 2022, quando o Chat GPT revolucionou o mercado democratizando a IA generativa, conseguindo mais de 100 milhões de usuários em apenas 2 meses – tornando-se a aplicação digital com o crescimento mais rápido da história.


Sistemas de Inteligência Artificial estão presentes na vida das pessoas em várias formas, como carros autônomos, diagnósticos médicos, descobertas farmacêuticas, aplicação da lei, implementações militares, exploração espacial, educação, entre outros. De acordo com o Mckinsey Global Institute, a contribuição da IA para a economia global irá atingir o valor de 13 trilhões de dólares até 2030, e estimam que por volta de 70% de todas as empresas utilizarão sistemas baseados em IA na mesma data.

Ainda de acordo o mesmo instituto, “mais de 2000 atividades de trabalho em mais de 800 ocupações mostram que certas categorias de atividades são mais facilmente automatizáveis do que outras”. Essas atividades correspondem a mais de 50% de todas as atividades performadas por humanos no setor industrial.


Quase todas as profissões serão impactadas pela IA, mas apenas 5% podem ser totalmente automatizadas. O futuro da Inteligência Artificial tende mais para a colaboração humano-máquina do que para a substituição total do trabalho humano.

Interessados em investigar como a IA generativa vem sendo usada na educação superior, e quais os impactos causados por ela no setor, aproveitamos a oportunidade de desenvolvimento de um trabalho de conclusão de curso para explorar o tema. O objetivo deste artigo é apresentar os resultados de uma pesquisa realizada em 2023, na França, que envolveu a participação de 41 estudantes de diversas nacionalidades e cursos superiores, e 4 professores também de diferentes formações.


O tema mostra-se tão atual que foi incorporado ao grupo de pesquisa Ambientes Transdisciplinares de Aprendizagem, liderado pela Faculdade Skema Brasil.


Mudanças na educação

Reinventar a pedagogia do século XXI é essencial para desenvolver novas competências nos alunos, ultrapassando métodos tradicionais focados em memorização. Hoje, estudantes engajados contribuem com perspectivas inovadoras, necessitando de uma aprendizagem significativa que se alinhe com seus valores pessoais e de suas comunidades. É importante que os alunos se engajem em investigações relevantes para cultivar as habilidades avançadas exigidas atualmente.


O sistema educacional, marcado pela fragmentação, demanda inovação para atender às necessidades dos alunos em sua "jornada do aprendiz". Luna Scott (2015) destaca que "a educação do século XXI exigirá aprendizado personalizado, enfatizando o suporte à criatividade em vez de reprimi-la ". A integração da tecnologia surge como ponto crucial para personalizar o ensino, conforme Bulman & Fairlie (2016) apontam, promovendo uma educação que respeita as diferenças de cada aluno.


IA e educação


A IA tem se destacado no setor educacional, oferecendo soluções adaptativas que enriquecem a aprendizagem em diversos cenários. Sua implementação em escolas e universidades ao redor do mundo reflete o crescente reconhecimento de seu potencial na educação, independentemente das diferentes opiniões de alunos, professores, pais e políticos.


Há mais de cinquenta anos a IA é explorada na educação, recebendo investimentos significativos de gigantes da tecnologia como Amazon, Google e Facebook, entre outras. Esses esforços têm impulsionado a tutoria online, o aprimoramento do treinamento de professores e a ampliação do acesso a recursos educacionais personalizados. De acordo com Holmes (2020), o uso da IA em contextos educacionais está se desenvolvendo a uma taxa exponencial, com um mercado esperado de cerca de seis bilhões de dólares até 2024.


A IA na educação tem viabilizado desde tutoria inteligente até a análise detalhada do progresso dos alunos, evidenciando notáveis avanços tecnológicos e impactos pedagógicos positivos. Tal tecnologia se destaca por permitir a personalização do aprendizado, adequando-se às necessidades individuais dos alunos e identificando lacunas de conhecimento, o que otimiza a eficácia do ensino. A tecnologia também facilita avaliações e o monitoramento da participação dos estudantes em sala, permitindo ações preventivas para estudantes em risco, reforçando a importância da IA como ferramenta educacional.


IA generativa e educação


Mudanças drásticas nas práticas educacionais foram experimentadas nessa última década, principalmente devido aos avanços tecnológicos, sendo o mais relevante deles a implementação da IA. Recentemente, progressos no campo de Machine Learning (ML) resultaram na criação de conteúdos digitais mais refinados gerados por IA que impactam diretamente o setor da educação, como por exemplo a Inteligência Artificial Generativa (IAG).


Desde o lançamento do ChatGPT da OpenAI em novembro de 2022, GPTs (Generative Pre-trained Models) vem sendo muito discutidos e descritos como uma tecnologia capaz de mudar o mundo. A tecnologia GPT utiliza uma grande quantidade de conteúdos digitais de acesso público para gerar novos conteúdos através do Processamento de Linguagem Natural (PLN). Isso permite com que esses modelos de IA gerem textos, imagens, vídeos e áudios com muita criatividade sobre uma extensa variedade de assuntos, muito próximos a conteúdos gerados por humanos.


De acordo com Grassini (2023), o impacto desses modelos de IA, especialmente as notáveis aplicações potenciais do ChatGPT na educação, provocou uma gama de emoções contraditórias entre os educadores. Muitos demonstram perspectivas positivas quanto às oportunidades e avanços, enquanto outros expressam preocupações sobre ameaças e a necessidade de regulamentação. 


Dada sua presença marcante na mídia, a IAG tem sido objeto de análise por diversos cientistas. Tais análises buscam avaliar tanto as oportunidades quanto os desafios de sua implementação no ensino superior, incluindo as implicações éticas relacionadas à implementação da IAG na educação.


Originalidade e plágio, por exemplo, estão no centro da discussão, levando muitos governos e escolas a proibirem ferramentas de IAG, como o ChatGPT, por temerem que facilitem trapaças. Alguns educadores acreditam que tal tecnologia pode impedir uma avaliação verdadeira do desempenho e o aprendizado dos alunos, dificultando a identificação do verdadeiro entendimento das lacunas de aprendizagem.


De acordo com Qadir (2022), a IAG também pode beneficiar professores e alunos, auxiliando a criação de planos de aula, apresentações e avaliações, além de contribuir para a correção de atividades. Alunos se beneficiam ao usar essa tecnologia para solucionar dúvidas, aprimorar a escrita e obter feedback sobre seus trabalhos. Como demonstração de sua eficácia, o Chat GPT já se mostrou competente em provas de administração, direito e até em partes de avaliações para licença médica.


Mesmo que as tecnologias de IA apresentem desafios e oportunidades, elas exigem uma abordagem proativa pelas instituições de ensino, enfatizando a governança competente e a regulação inteligente, ao invés de proibições. A integração consciente em sala de aula, discussões sobre seus impactos e o acesso equitativo são fundamentais para aproveitar as oportunidades e enfrentar os desafios da IAG, visando um futuro sustentável na educação superior, sem aprofundar as desigualdades já existentes.


Resultados parciais


O estudo apontou que 53% dos estudantes são usuários frequentes de IAG, e 47% disseram já ter utilizado alguma vez. Já 44% disseram que suas universidades nunca abordaram a IAG, e 38% acreditam que “as universidades deveriam treinar os estudantes”. Em relação ao aprendizado individual, 78% disseram que "afetou positivamente".


Também identificamos que determinadas matérias são mais afetadas, e os estudantes utilizam prompts errados, sendo sugerido que as universidades deveriam treinar os alunos e professores, pois manter a interação entre eles e os estudantes é crucial, uma vez que o mercado futuro exigirá proficiência em IAG.


Conclusão


O uso da IAG no ensino superior é uma realidade, e precisamos pensar em formas de uso conscientes e complementares à formação cidadã. Além disso, é importante que as instituições e atores do ensino superior implementem a IA na trilha de aprendizado de seus alunos, para que eles sejam introduzidos ao mercado de trabalho com a desejada proficiência em tais tecnologias.


Nesse cenário, é extremamente importante manter a interação entre alunos e professores, para que o uso da IAG seja supervisionado e discutido em sala de aula, gerando novos insights e aplicações para a tecnologia na educação de forma consciente sobre suas implicações éticas.


Desdobramentos do projeto inicial “AI Transforming Academia: the rise of generative AI and its changes in higher education” estão sendo trabalhados no grupo de pesquisa Ambientes Transdisciplinares de Aprendizagem na forma de um programa de iniciação científica (IC) denominado “O uso da AI na construção de conhecimento”, com o projeto de IC de “Proposta de um manual de boas práticas para o uso na educação”.


Essa conscientização sobre o uso da IA de forma ética e complementar às capacidades cognitivas contribui para a formação de cidadãos cada vez mais conscientes a respeito da jornada da IA, que  “não é apenas sobre a adoção de tecnologia; é sobre a criação de um legado de inovação, liderança e transformação positiva”.


Referências

1. Luna Scott, C. (2015). The Futures of Learning 3: What kind of pedagogies for the 21st century? Disponível em: https://repositorio.minedu.gob.pe/handle/20.500.12799/3747. Acesso em: 24 de Nov. 2023.

2. Qadir, J. (2022). Engineering Education in the Era of ChatGPT: Promise and Pitfalls of Generative AI for Education. Disponível em: https://doi.org/10.36227/techrxiv.21789434.v1. Acesso em: 24 de Nov. 2023.

3. Bulman, G., & Fairlie, R. W. (2016). Chapter 5. Technology and Education: Computers, Software, and the Internet. In E. A. Hanushek, S. Machin, & L. Woessmann (Eds.), Handbook of the Economics of Education (Vol. 5, pp. 239 280). Elsevier. Disponível em: https://doi.org/10.1016/B978-0-444-63459-7.00005-1. Acesso em: 24 de Nov. 2023.

4. Holmes, W. (2020). Artificial Intelligence in Education. In A. Tatnall (Ed.), In: Tatnall, A, (ed.). Encyclopedia of Education and Information Technologies. Springer: Cham, Switzerland. (2020). Disponível em: https://doi.org/10.1007/978-3-030-10576-1_107. Acesso em: 24 de Nov. 2023.

5. Grassini, S. (2023). Shaping the Future of Education: Exploring the Potential and Consequences of AI and ChatGPT in Educational Settings. Education Sciences, 13 (7), Article 7. Disponível em: https://doi.org/10.3390/educsci13070692. Acesso em: 24 de Nov. 2023.

SOBRE O AUTOR

ARTHUR MEIRELLES CHAVES

Autor do projeto “AI Transforming Academia: the rise of generative AI and its changes in higher education”, desenvolvido na França sob a supervisão do professor Devin Smith, cursando especialização em Inteligência Artificial para Negócios, é graduado pela Skema Business School em Administração com duplo diploma no Brasil e França. Pesquisador no grupo Ambientes Transdisciplinares de Aprendizagem no LATACI® e na Skema.

COLABORAÇÃO

MAX CIRINO DE MATTOS

Presidente do LATACI® Research Institute, pesquisador e professor na Skema Business School, consultor. Possui pós-doutorado em Arquitetura e em Ciência da Informação, doutorado e mestrado em Ciência da Informação. Atualmente lidera o grupo de pesquisa Ambientes Transdisciplinares de Aprendizagem no LATACI® e na Skema.



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