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Publicado em 8 de Abril de 2020

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Criando uma Intelligent Enterprise

Algoritmos são o segredos das empresas digitais mais valiosas

Os algoritmos de IA já fazem parte do nosso dia a dia. Convivem conosco há muito tempo. Nos primórdios da computação, os processos batch demandavam algoritmos de classificação (sorts) para colocarmos arquivos em uma determinada ordem, mais adequada ao seu processamento. Com a Internet e a explosão da geração de dados, vimos exemplos emblemáticos de uso de algoritmos, que fazem o sucesso de inúmeras empresas, como os algoritmos de busca do Google, de recomendação da Amazon e Netflix, ou os que selecionam o conteúdo a ser mostrado nas timelines dos usuários no Facebook. Os algoritmos também são parte essencial de novas tecnologias disruptivas, como os veículos autônomos. Um veículo autônomo é um carro recheado de algoritmos e modelos preditivos, que tomam decisões a cada instante. Olhando isso, o que observamos? Quais são os segredos mais guardados da Amazon, Google e Facebook? Sim, seus algoritmos. Estes sim, são os que tornam estas empresas tão valiosas.


Algoritmos eficientes podem ser uma fonte de monetização para as empresas. Uma companhia de logística poderá licenciar seus algoritmos de entrega just-in-time para empresa não concorrente, como para um fabricante de geladeiras comerciais que, em parceria com uma rede varejista efetua automaticamente a reposição do estoque, baseado nas predições de consumo dos clientes. Futurologia? Não, é questão de olhar a operação logística como diferencial competitivo. Com o advento da Internet das Coisas e impressoras 3D, amplia-se consideravelmente as opções e complexidade da operação logística, mas por outro lado, abrem-se novas e disruptivas oportunidades de negócio. Isto significa que algumas operações usualmente tidas como comoditizadas e colocadas sob ERPs e outros softwares de prateleira, podem fazer diferença, se substituídos por algoritmos preditivos. Um sistema de RH é apenas folha de pagamento ou pode incluir um sofisticado algoritmo de recrutamento, avaliação e retenção de talentos, que poderia ser oferecido ao mercado?

É uma evolução do simples controle operacional, onde todas empresas que usam o mesmo software operam de forma similar, para um processo analítico e preditivo. Um processo que hoje é comoditizado pode se tornar um diferencial competitivo. Mais um passo na tendência que mais cedo ou mais tarde, toda empresa vai se tornar uma empresa de tecnologia. Os produtos cada vez mais serão valorizados pela sofisticação de seus algoritmos. Aliás, os produtos estarão embutidos dentro de serviços.

Com a disseminação do conceito de “algorithm ou AI economy” não será difícil imaginar um futuro onde teremos “algorithms stores”, compostos por milhares de componentes de software (algoritmos) que poderão ser combinados para criar outros mais complexos. Um exemplo é o Algorithmia, que é uma biblioteca de algoritmos disponíveis para uso.

Como exemplo, olhemos um algoritmo de recomendação. Ele está constantemente balanceando o que conhece com o que não conhece. Explico: à medida que um cliente efetua compras, o algoritmo começa a entender seus hábitos de compra e procura fazer recomendações que sejam do interesse do cliente. Por outro lado, ele não pode apenas considerar o que já conhece, porque mais cedo ou mais tarde, o número de ofertas tenderá a ficar menos atrativa. O algoritmo tem que fazer novas explorações, tentar ofertar algo novo e validar se o cliente gosta ou não. A ideia é ampliar o conjunto de ofertas, com tentativas de erros e acertos. O cuidado é não errar muito, e oferecer insistentemente coisas que não interessam, e nem ficar agarrado aos hábitos anteriores, só oferecendo o que já está se esgotando. Este balanceamento é que é o segredo de algoritmos como o da Amazon. O nível de eficiência do algoritmo é conseguir o balanço ótimo entre as preferências conhecidas e o potencial de novas oportunidades de categorias de produtos que podem ampliar o conjunto de preferências do cliente. Para isso é necessário coletar e analisar dados das interações dos clientes com a empresa em todos os canais. O algoritmo tem que processar estes dados e ele mesmo auto ajustar-se à cada cliente, de modo que o conjunto de preferências de um não é necessariamente aplicável a outro cliente. É uma interação 1-to-1.

Pergunto: quantos sites de comércio eletrônico no Brasil adotam algoritmos de recomendação? Fico pasmo de ver grandes lojas no máximo listando produtos por tipo ou preço, ignorando os hábitos de compra e nem explorando o potencial de novas vendas.

Mas, diante de um cenário de disrupções frequentes, podemos ir mais além com os algoritmos. A disrupção digital está deixando claro que organizações que se mantém aferradas a modelos e organizações rígidas correm sério risco de sobrevivência. Por que não imaginar uma organização que auto ajuste seus processos e modelos de negócios baseados em decisões algorítmicas? Bem, ainda estamos longe de um algoritmo que nos diga com exatidão quando e como criar um novo modelo de negócios. Mas, que tal aplicar os mesmos princípios que auto ajustam os algoritmos para a gestão das organizações? Uma grande maioria dos processos administrativos de uma empresa são altamente repetitivos e não demandam criatividade. Na prática não agregam valor para o negócio e muitos foram desenhados para um mundo de 20 ou 30 anos atrás.

Vamos então provocar uma discussão: adotar princípios algorítmicos na gestão das organizações. Olhando uma empresa vemos que no seu mais alto nível temos a visão (direção e propósito da empresa), seguido pelo modelo de negócios e suportado pelos processos, sistemas e estrutura organizacional. A prática tradicional tem sido congelar a visão e o modelo de negócios (criados na fundação da empresa, talvez há dezenas de anos) e apenas inovar de forma incremental processos, sistemas e estrutura organizacional. Funcionou muito bem quando o cenário era mais estático e menos disruptivo, Mas funciona hoje? Quanto um Airbnb, Uber, WhatsApp gera reações coléricas dos setores e empresas afetadas, é que o modelo atual, rígido, não as deixou fazer as mudanças em tempo hábil. Talvez nem as deixaram perceber que o mundo estava mudando à sua volta.

Aplicando os princípios algorítmicos auto ajustáveis, não apenas a camada de suporte (processos, sistemas e estrutura organizacional) muda, mas a visão e os modelos de negócios também se auto ajustam à dinâmica do mercado. A empresa não é mais uma estrutura rígida com a decisões top down descendo ladeira abaixo por toda a organização.

Não é ficção científica. Recomendo ler um artigo instigante, “The Self-Tuning Enterprise”, em https://hbr.org/2015/06/the-self-tuning-enterprise, que mostra um caso real, a chinesa Alibaba, aplicando estes conceitos em seu dia a dia.

Um detalhamento maior pode ser visto no livro “Smart Business: what Alibaba´s sucess reveals about the future of strategy”, de Ming Zeng, chairman do Alibaba Group e membro do seu Academic Council.




Na DataH estamos com um projeto chamado Ziggy Stardust que se propõe a automatizar elo menos 70% de todos os processos administrativos, criando uma empresa quase autônoma, gerenciada por algoritmos.

As empresas nascidas no mundo da Internet são obrigadas a se reinventar constantemente pois estão no epicentro do vórtice de transformação digital. Mas as mudanças não afetam apenas a elas. Todas as organizações, mais cedo ou mais tarde, serão sugadas para este vórtice. Assim, vale a pena olhar o futuro sob outra ótica, considerando que o modelo organizacional que usamos hoje começa a perder validade diante de um cenário de transformações aceleradas. O futuro será das empresas auto ajustáveis. As estáticas não sobreviverão.


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Sobre o Autor

Cezar Taurion

Cezar Taurion

VP de Inovação @ CiaTécnica

Head da CiaTécnica Research, Partner/Head of Digital Transformation da Kick Corporate Ventures. Investidor e mentor de startups de IA e membro do conselho de inovação de diversas empresas. Na sua carreira foi Diretor de Novas Tecnologias Aplicadas e Chief Evangelist da IBM Brasil; e sócio-diretor e líder da prática de IT Strategy da PwC.

Também exerceu cargos técnicos e executivos em empresas como Shell e Chase Manhatttan Bank. Com educação formal diversificada, em Economia e mestrado em Ciência da Computação sempre buscou compreender e avaliar os impactos das inovações tecnológicas nas organizações e em seus processos de negócio.
Escreve constantemente sobre tecnologia da informação em sites e publicações especializadas como NeoFeed e outros, além de apresentar palestras em eventos e conferências de renome como IT Forum, IT Leaders, CIO Global Summit, TEDx, CIAB e FutureCom. É autor de onze livros que abordam assuntos como Inteligência Artificial, Transformação Digital, Inovação, Big Data e Tecnologias Emergentes. Membro notável do I2AI. Advisor da EBDI e professor convidado da Fundação Dom Cabral, da PUC-RJ e PUC-RS. Publisher da Intelligent Automation Magazine.

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